Silepse é uma figura de linguagem caracterizada por estabelecer concordância não com as palavras que compõem a frase, mas com a ideia que se pretende transmitir ou com termos subentendidos. Não obedece às regras de concordância gramatical, estabelecendo uma concordância ideológica. Há três tipos de silepse: silepse de gênero, silepse de número e silepse de pessoa.
Silepse de gênero
Ocorre silepse de gênero quando há uma discordância gramatical entre os gêneros dos artigos, substantivos, adjetivos, pronomes,… O gênero indica o masculino e o feminino.
Exemplos:
- Angra dos Reis é encantadora! (a concordância é feita com a palavra cidade, feminina, que está subentendida)
- A Rio-Santos está engarrafada. (a concordância é feita com a palavra rodovia, feminina, que está subentendida)
- A gente está cansado, precisando de férias. (a concordância é feita com o sexo do emissor e não com a locução pronominal)
- Vossa Santidade está alerto para os problemas atuais da igreja católica. (a concordância é feita com o sexo da pessoa em questão e não com o pronome de tratamento)
Silepse de número
Ocorre silepse de número quando o sujeito é uma palavra no singular que transmite uma ideia de coletividade, havendo uma discordância gramatical entre o sujeito e o verbo das orações que estão mais distantes do sujeito. O número indica o plural e o singular.
Exemplos:
- O casal viajou pela Europa e tiraram muitas fotos. (a concordância é feita com a ideia de plural transmitida pelo substantivo casal)
- A multidão encheu as ruas e protestaram por um ensino melhor. (a concordância é feita com a ideia de plural transmitida pelo substantivo multidão)
- A maioria das crianças gostam de chocolate. (a concordância é feita com a palavra no plural crianças e não com o núcleo do sujeito: maioria, no singular)
Silepse de pessoa
Ocorre silepse de pessoa quando há discordância entre o sujeito e a pessoa verbal. Normalmente, o emissor se inclui num sujeito da terceira pessoa do plural (eles), fazendo a flexão verbal na primeira pessoa do plural (nós). Existem três pessoas gramaticais: primeira (quem fala: eu e nós), segunda (com quem se fala: tu e vós), terceira (de quem se fala: ele e eles).
Exemplos:
- Todos preferimos viajar de avião. (a concordância é feita com nós e não com eles: preferem)
- A situação é complicada porque os alunos queremos a anulação da prova. (a concordância é feita com nós e não com eles: querem)
- Os três íamos conversando sobre assuntos cotidianos. (a concordância é feita com nós e não com eles: iam)
Exemplos de silepse na literatura
- “Conheci uma criança... mimos e castigos pouco podiam com ele.” (Almeida Garret – silepse de gênero)
- “Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.” (Olavo Bilac – silepse de gênero)
- “Povoaram os degraus muita gente de sorte." (Camilo Castelo Branco – silepse de número)
- “O casal de patos nada disse, (…). Mas espadanaram, ruflaram e voaram embora.” (Guimarães Rosa – silepse de número)
- “Enfim, lá em São Paulo todos éramos felizes graças ao seu trabalho.” (Rubem Braga – silepse de pessoa)
- “Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins públicos.” (Machado de Assis – silepse de pessoa)