O artigo de opinião é um texto do domínio jornalístico em que o autor discute um tema atual e relevante para a sociedade, mostrando o seu ponto de vista.

A base do artigo é a argumentação. Ou seja: mais do que apresentar o tema em si, o articulista (autor) procura convencer o leitor sobre uma ideia (tese) relacionada ao assunto.

Sendo um texto dissertativo-argumentativo, sua estrutura possui três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. O articulista apresenta o tema e seu posicionamento, desenvolve os argumentos e retoma as ideias, reforçando sua posição.

Divulgado geralmente em jornais, revistas e blogs, o artigo é um texto assinado. Assim, costuma ser escrito em primeira pessoa, mas também pode ser na terceira. Além disso, tem um título atrativo para chamar a atenção do leitor.

3 exemplos de artigo de opinião

1. Artigo de opinião sobre nutrição e alimentação

O artigo a seguir foi assinado por quatro pesquisadores. O título já marca uma posição contrária à de outro articulista, que defendeu que alguns tipos de ultraprocessados parecem trazer benefícios à saúde.

'Ultraprocessados do bem': ideia tão vazia quanto esses alimentos
Alimentação saudável é comida de verdade, sem formulações industriais

VÁRIOS AUTORES (nomes ao final do texto)*

A área da nutrição tem um clichê tão frequente que virou piada. Ovo faz mal? Respostas a perguntas como essa vão sempre variar, dando a impressão de que alimentos específicos são ora benéficos, ora maléficos. Isso porque estudos que avaliam o efeito de alimentos isolados na saúde não têm reflexo na realidade. Não os comemos isoladamente, mas combinados em refeições.

A ciência tem mostrado que o padrão alimentar baseado em ultraprocessados está associado a um maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas. [...] Em sua coluna nesta Folha, no entanto, Bruno Gualano questiona o impacto negativo dos ultraprocessados na saúde [...] Segundo ele, existiriam, então, ultraprocessados aptos a compor uma alimentação saudável. [...]

Formulações industriais com pouco ou nenhum alimento de verdade, ultraprocessados são marcados pela destruição da matriz alimentar de seus ingredientes [...]. Resultam em uma mistura de fragmentos — como o amido do milho e o óleo da soja— sem cor, sabor ou textura, o que exige a inclusão de aditivos cosméticos [...].

Em um país rico e biodiverso como o Brasil, de onde brota comida de verdade, não faz sentido identificar opções menos piores de alimentos que têm, sem dúvidas, nos adoecido.

*Carlos Augusto Monteiro, Patricia Constante Jaime, Maria Laura da Costa Louzada, Renata Bertazzi Levy. Fonte: Folha de São Paulo, 1 ago. 2023.

2. Artigo de opinião sobre tecnologia, relações sociais e qualidade de vida

Este artigo também tem um título atrativo. A autora apresenta exemplos e questionamentos, provocando a reflexão sobre quais são as nossas prioridades em um tempo em que todos estão “conectados”.

É urgente recuperar o sentido de urgência
Nós, que podemos ser acessados por celular ou Internet 24 horas, sete dias por semana, estamos vivendo no tempo de quem?

ELIANE BRUM

Dias atrás, Gabriel Prehn Britto, do blog Gabriel quer viajar, tuitou a seguinte frase: “Precisamos redefinir, com urgência, o significado de URGENTE”. (Caixa alta, na Internet, é grito.) [...] Depois disso, Gabriel passou a postar uns “tuítes” provocativos, do tipo: “Urgente! Acordei” ou “Urgente: hoje é sexta-feira”.

A provocação é muito precisa. Se há algo que se perdeu nessa época em que a tecnologia tornou possível a todos alcançarem todos, a qualquer tempo, é o conceito de urgência. [...]

Como muitos, tenho tentado descobrir qual é a minha medida e quais são os meus limites nessa nova configuração. [...] Não é possível ser alcançada por qualquer um, a qualquer hora, em qualquer lugar. Estou lendo um livro e, de repente, o mundo me invade, em geral com irrelevâncias, quando não com telemarketing. [...]

[...] Será que uma pessoa não pode se ausentar, ficar incomunicável, por algumas horas? Será que temos o direito de invadir o corpo/tempo dos outros direta ou indiretamente? Será que há tantas urgências assim? Como é que trabalhávamos e amávamos antes, então? [...]

A grande perda é que, ao se considerar tudo urgente, nada mais é urgente. Perde-se o sentido do que é prioritário em todas as dimensões do cotidiano. E viver é, de certo modo, um constante interrogar-se sobre o que é importante para cada um.

Fonte: Época, globo.com. 25 jun. 2013.

3. Artigo de opinião sobre criação de filhos, educação e cidadania

Neste artigo, a autora critica o fato de as crianças viverem em espaços privados e não interagirem com a cidade em que residem. Apresenta alternativas para o problema e os benefícios de se viver mais nos espaços urbanos.

Devolver as ruas às crianças

ROSELY SAYÃO

Sempre que falamos em crianças andando pelas ruas, logo pensamos na segurança, ou melhor, na falta dela. E, em geral, a justificativa do perigo que são as ruas para as crianças nos leva a deixá-las presas entre móveis e imóveis.

No trajeto de casa para a escola de carro, eles não têm a oportunidade de conhecer a cidade com mais intimidade com seus habitantes, tão diversos! Ficam imersos em um mundo irreal, uniforme, que nunca irão encontrar quando crescerem e tiverem autonomia para ir e vir. Os mais novos irão crescer e viver sozinhos um dia, e será neste mundo com que tentamos evitar que eles tenham contato que eles viverão. Por isso, talvez seja bom que aprendam logo a conhecer de perto a cidade em que residem. [...]

Já temos um movimento que incentiva e colabora na prática para que os mais novos tenham maior proximidade com o local em que moram. Ele se chama "Carona a pé" [...]

Quanto menos crianças estiverem nas ruas, mais a cidade será hostil para elas. Quanto menos pessoas nas ruas, mais os carros se apossam delas. Precisamos devolver nossas crianças à cidade, e a cidade às crianças, porque isso contribui, além de tudo, para uma vida mais civilizada. [...]

Fonte: Folha de São Paulo, 27 jun. 2017.

Estrutura do artigo de opinião

O artigo é composto de três partes:

Artigo de opinião. Introdução: Contextualiza o leitor. Apresenta o tema e o posicionamento do autor (por meio de uma tese). Possui um ou dois parágrafos. Desenvolvimento: Apresenta argumentos que justifiquem, comprovem ou neguem a tese. Possui dois ou três parágrafos, um para cada argumento defendido. Conclusão: Retoma as ideias trabalhadas. Apresenta um comentário mais pessoal ou uma proposta de solução. Possui um parágrafo, geralmente.

Como fazer um artigo de opinião

Escrever um artigo de opinião pode parecer difícil. No entanto, escrever é, antes de tudo, uma questão de prática: quanto mais uma pessoa escreve, mais fluido se torna esse processo.

1. Planejamento

  • Pesquisar sobre o tema em diversas fontes.
  • Fazer anotações das ideias que surgirem, procurando registrar avaliações e opiniões sobre o tema.
  • Organizar as ideias, colocando próximas aquelas que são semelhantes. Isso facilita a coerência e a coesão.

2. Escrita

  • Explicar no texto o raciocínio que levou a uma reflexão.
  • Escrever tendo em vista que a primeira versão não é a melhor. Colocar todas as ideias relacionadas ao assunto no primeiro rascunho e depois ir retirando e acertando.

3. Edição

  • Reler o texto, se possível, alguns dias depois de ter escrito a primeira versão. Isso permitirá a identificação de problemas que não tinham sido vistos antes. Pedir a outra pessoa para avaliá-lo.
  • Reescrever quantas vezes forem necessárias.
  • Encontrar um título criativo e que tenha relação com o assunto tratado ao longo do texto. Títulos como “A fome” ou “Problemas brasileiros” são muito genéricos e não despertam a curiosidade do leitor.

Como começar um artigo de opinião (introdução)

A introdução é o primeiro contato do leitor com o tema. Veja os principais tipos.

Introdução por declaração inicial

Faz uma afirmação para depois fundamentá-la.

Exemplo: “Vivemos numa época de ímpetos.”

Introdução por definição

Apresenta uma definição ou um conceito.

Exemplo: “Estilo é a expressão literária de ideias ou sentimentos.”

Introdução por alusão histórica

Cita fatos históricos, lendas ou tradições que tenham relevância para o tema abordado.

Exemplo: "Conta uma tradição cara ao povo americano que o Sino da Liberdade, cujos sons anunciaram, em Filadélfia, o nascimento dos Estados Unidos, inopinadamente se fendeu, estalando, pelo passamento de Marshall."

Introdução por interrogação

Faz uma pergunta, que será discutida e à qual se tentará responder durante o desenvolvimento.

Exemplo: "Sabe você o que é manhosando?"

Como fazer o desenvolvimento

Como o próprio nome indica, no desenvolvimento será feita a explanação do tema do texto. Para isso, são utilizados argumentos: frases e ideias que têm por objetivo defender a tese apresentada.

Desenvolvimento por enumeração

Lista – e discute brevemente – os principais pontos para defender um tema.

Exemplo: "Até mesmo as pessoas que seguiram carreira técnico-científica não entendem a racionalidade da ciência. Consomem toneladas de pseudomedicamentos sem nenhum efeito positivo para o organismo. [...] Consomem extratos de plantas com substâncias tóxicas e abandonam o tratamento médico."

Desenvolvimento por confronto

Apresenta as diferenças existentes entre dois elementos, com o objetivo de defender um deles.

Exemplo: "Numa sociedade em que a ciência expandiu a longevidade do homem, não oferecemos à maioria da população segurança física nem acesso ao que a medicina moderna pode oferecer – nem mesmo a garantia de teto e comida."

Desenvolvimento por analogia ou comparação

Introduz elementos semelhantes, com o objetivo de reforçar uma ideia por meio do realce das semelhanças que há entre eles.

Exemplo: "As mulheres indígenas que morrem por aborto inseguro no México são muito parecidas às mães que choram por seus filhos negros mortos pela violência policial nas favelas do Rio de Janeiro."

Desenvolvimento por exemplificação

Dá exemplos concretos daquilo que se pretende defender.

Exemplo: "Muitos experimentos de alto impacto podem ser realizados com materiais simples, em sala de aula ou em casa. Os norte-americanos, por exemplo, transformaram as garagens de suas casas em laboratórios no final do século XIX e início do século XX."

Desenvolvimento por causa e consequência

Discute detalhadamente as razões e os desdobramentos de um problema. Normalmente, dedica-se um parágrafo à causa e outro à consequência.

Exemplo: "Quando uma menina fica grávida, seu presente e futuro se alteram, pois sua educação pode ser interrompida, suas perspectivas de emprego diminuem e suas vulnerabilidades à pobreza, à exclusão e à dependência se multiplicam."

Desenvolvimento por dados estatísticos

Mostra dados percentuais ou informações numéricas para reforçar a ideia que se pretende defender.

Exemplo: "São, ao todo, 27 milhões de eleitores nessa situação no cadastro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Desses, 8 milhões são analfabetos."

Desenvolvimento por argumento de autoridade

Cita a fala de especialistas no assunto para defender um ponto de vista.

Exemplo: "'A definição proposta se aplica não só para o ambiente doméstico [...] O projeto busca uma mudança cultural', diz a subsecretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira."

Como fazer a conclusão

A conclusão é o momento de "amarração" do texto. Existem muitas formas de escrevê-la, mas uma estratégia pode ajudar: começar o parágrafo apresentando um conectivo que indique a finalização do texto ("dessa forma", "assim", "em resumo"). Depois retomar a tese e, no trecho final do parágrafo, fazer um comentário.

Os tipos mais comuns são:

Conclusão proposta

Aponta soluções para os problemas levantados ao longo do texto.

Exemplo: "Como se nota pela dimensão do problema, algumas medidas fazem-se urgentes: é necessário investir em projetos de recuperação dos rios, tal como se fez na Inglaterra com o rio Tamisa; por outro lado, devem-se desenvolver projetos que visem ao reaproveitamento dos esgotos."

Conclusão resumo

Retoma os aspectos discutidos ao longo do texto, com o objetivo de reforçar a tese apresentada.

Exemplo: "Dessa maneira, observamos que o problema da poluição nos rios envolve uma série de variáveis que incluem a população, as indústrias e o Estado."

Conclusão surpresa

Usa uma construção inusitada, uma citação, uma anedota ou um fato curioso para surpreender o leitor.

Exemplo: "E não me faça bocejar de tédio dizendo que sou preconceituoso. 'É sobre' saber do que se está falando por ter estudado muito o assunto, não 'se tratam de' pitacos improvisados. Mas nem por isso deixa de ser, também, uma tomada de posição ideológica explícita."

Louise Oliveira
Louise Oliveira
Graduada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é professora de Língua Portuguesa, autora de materiais didáticos e revisora de textos. Apaixonada pela escrita e pelo ensino de língua materna, produz conteúdos educacionais desde 2009 e carrega o propósito de levar educação de qualidade a todos.